Eram tempos de grande coragem e de muitos desafios. E o que se via naqueles homens era a disposição para viajar, vencendo as dificuldades, para conhecer o litoral do novo mundo. E depois que se descobriu aquelas novas terras, um encontro fantástico aconteceu. E nele, diferentes culturas se chocaram causando enorme estranheza.Comportamentos e costumes próprios de ambas as partes saltavam aos olhos daqueles indivíduos comuns. Eles viram, como alienígenas, os estranhos à sua frente.
E mais do que o fato de descobrir o continente, o homem branco descortinou uma nova realidade, que era a vida simples que os indígenas levavam numa comunhão natural. O olhar dos invasores não entendia a exibição dos corpos nus, sem dúvida, uma afronta condenável. Observaram que os índios tinham um despojamento da moral hipócrita que dominava o velho mundo. Isto ao mesmo tempo, encantou e assustou os europeus. Deslumbrados, a princípio, assistiram ao desfile dos nativos. Contudo, certas práticas instintivas, demonstradas em alguns momentos, os fizeram acreditar que estavam diante de seres inferiores. E que os nativos até podiam ser comparados a animais de comportamento insano. Então pensaram, com certeza, se poderiam classificar aquela gente como humana, e mesmo que se por acaso o fossem, como explicar a ausência deles nas Sagradas Escrituras. A verdade era que sequer foram citados em outra obra qualquer, nem mesmo em nenhum outro pensamento. Certamente, aqueles silvícolas deveriam sofrer uma análise mais criteriosa, de cunho religioso, para serem melhor compreendidos.
Ao olhar indígena também cabia uma confusão ainda maior. Pois estes viajantes vestidos com mantas pesadas, calçando botas até os joelhos e usando chapéus, jamais fizeram parte de suas fantasias. Sem contar o uso da barba e do bigode, que causavam uma aparência grotesca. Por certo, estes homens vinham de uma outra dimensão, de um outro mundo. Para eles nenhuma explicação diferente disto faria sentido. Eles eram de uma tribo, sim, de uma tribo com a qual nunca – nem sequer em seus pensamentos mais criativos – imaginaram encontrar. Surgiam, vindos do mar em canoas gigantes, uns homens brancos de uma palidez doentia. Eram, sim, mensageiros do caos. Vieram invadir e exigir espaço para sua gente, um lugar que com certeza iriam tomar à força. Ou mesmo, quem sabe, chegaram para mostrar um novo caminho aos irmãos da selva, enviados que foram por deus Tupã , Ele que em sua sabedoria, vislumbrava dotar os nativos de novos conhecimentos. Mas a verdade, contudo, é que eram muito estranhos. Sujos, encardidos e, no mais, falando coisas que ninguém entendia. E assim, diante dessas pequenas certezas e de um grande emaranhado de dúvidas a responder, eles se encontraram. E como num espelho, a imagem que se via não era a sua própria, mas sim o reflexo da incompreensão, da incerteza e do medo.
Contam-se muitas histórias do relacionamento daqueles homens ao longo da costa. Inúmeros encontros aconteceram e em cada um deles algo em particular se desenrolou. Pois saber do outro e descobri-lo, foi para ambos, uma delirante aventura. E uma dessas histórias diz que naquela praia deserta de uma areia fina como pó e de um mar azul, que encantava os olhos menos sensíveis, um grupo de homens iria se deparar com o outro, num compromisso, que jamais fora marcado e que mudaria suas vidas para sempre. Nem mesmo os perigos impostos pela selva e a imprevisibilidade assustadora do mar os faria recuar. E assim, a trama da vida faria com que o destino esperasse por eles.