A Tormenta
A medida que a noite tomava o barco, tinha-se a noção de que a tempestade aumentava, ou mesmo que a escuridão intensificava o temor pelo pior. E para completar, o ranger incessante do casco do barco gemia como num lamento dolorido.
Diogo, cansado e confuso, podia jurar ter visto um monstro emergir das águas agitadas. Ele tinha os olhos, fumegantes, de um vermelho ensanguentado e chamas a lhe sair pelas narinas. Estupefato e amedrontado buscou, desesperadamente, testemunhas que endossassem sua visão apavorante.
__ Vocês viram aquilo, não viram?
__ Do que falas, novato?
__ Mais parecia um monstro, um bicho do mar, dragão, não sei.
__ Mas onde, me digas, onde?
__ A sair do mar. Não viram?
Os dois marujos olharam na direção para onde apontava os olhos do novato. E não observaram nada mais do que a chuva e o clarão dos raios a iluminar o horizonte. Diogo, que fechara os olhos por um momento, agora com eles arregalados, também já não via mais a figura do ser fantasmagórico. Com certeza mergulhara para as profundezas de onde havia saído, talvez se pondo em fuga, diante da fúria que castigava a superfície.