O Pesadelo de Kaluanã
Então, agora, ele se movimentava no interior da mata e chovia muito e a escuridão era o breu. Sentia-se muito cansado e bem pouco enxergava a sua frente. Mas não podia relaxar, pressentia algo, sem que pudesse ter certeza. Era preciso encontrar um lugar para se proteger da chuva e mesmo de possíveis predadores oportunistas. Podia ouvir grunhidos, eles vinham de todas as partes e sua respiração ofegante se acelerava mais e mais. Então decidiu começar a correr. Talvez o perigo iminente o rondasse como que a cercá-lo. Alguma coisa se aproximava velozmente e as pegadas estavam cada vez mais perto. Um raio que desceu das nuvens carregadas explodiu diante dele, iluminando o vulto de um índio branco, cheio de pelos na face e pintado com vermelho de urucum para uma guerra solitária. Os olhos irados do guerreiro faiscavam em sua direção, como a lhe exigir uma explicação, uma resposta que ele não tinha para dar. Kaluanã acelerou a corrida floresta adentro e sem olhar para trás, se viu diante de um enorme desfiladeiro e tropeçando em seus próprios passos, percebeu a inevitável queda. Procurou, desesperadamente, se agarrar aos cipós das árvores mais próximas, numa última tentativa para impedir o vazio, mas suas mãos escorregaram e o corpo do índio flutuou... .